O silêncio e o vazio da encosta do Morro do Bumba que deslizou no dia 7 de abril do ano passado podem enganar quem passa pela Estrada Viçoso Jardim, na Zona Norte de Niterói. Apesar do desmoronamento que matou 47 pessoas e chocou o país, cerca de 50 famílias sem outras opções de moradia vivem hoje na parte mais alta da comunidade. Muitas fizeram a mudança para o Bumba nos últimos dias, por causa de atrasos ou do não pagamento do aluguel social pela prefeitura. Do outro lado da baía, no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, moradores calculam que mais de 40 famílias estão morando no entorno de uma área que veio abaixo, matando 34 pessoas.
Quem voltou para o Bumba não tira o olho do céu. As casas, interditadas e com rachaduras aparentes, não oferecem proteção. Grávida de três meses, Thalita Ellen, de 17 anos, mora com o marido numa pequena construção de quarto, cozinha e banheiro, colada à cerca que separa o local do deslizamento. A casa foi alugada de uma amiga por R$ 100.
Ela conta que os dois e a família do marido saíram do Bumba para uma outra área de risco, no Caramujo. O casal - que só recebeu o aluguel social, de R$ 400, uma única vez - decidiu retomar a independência no Bumba, perto da casa onde moravam, que foi destruída.
- Eu só queria uma casa sem risco, tanto faz o lugar - diz a adolescente, vizinha de um bar que continua funcionando, apesar de interditado.
Ela e o marido ainda não receberam o laudo da Defesa Civil sobre a casa onde moravam. Outros moradores estão na mesma situação e temem perder os apartamentos que estão sendo construídos pelo governo do estado em Viçoso Jardim.
A aposentada Diucéia da Cunha, de 60 anos, mostra as rachaduras que rasgam as paredes da sua casa, na Ladeira São Miguel. Depois de três meses sem receber o aluguel social, foi o único teto que restou.
Na tarde de terça-feira, com os parentes fora, Michelle Soares, de 19 anos, deixava às pressas uma casa ao lado: nuvens negras e trovões indicavam um temporal. A família dela alugou o imóvel por R$ 100, também por causa dos atrasos no aluguel social:
- Não quero passar por tudo aquilo de novo. Tenho medo de ficar aqui. Tem uma rachadura no quarto. Um barranco caiu e está encostado na casa.
O presidente da Associação das Vítimas do Morro do Bumba, Francisco Carlos de Souza, promete uma nova manifestação no Centro da cidade, na quarta-feira, às 15h.
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