Polícia Federal deve investigar a morte da juíza assassinada em Niterói
Uma juíza responsável pela prisão de policiais envolvidos em milícias e grupos de extermínio foi assassinada, em Niterói, no RJ. O nome dela estava numa lista de 12 pessoas marcadas para morrer.
Às 23h30 de ontem, a juíza Patricia Acioli chegou de carro, sozinha, no condomínio onde morava, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Testemunhas contaram que homens armados de pistolas estavam em dois carros e duas motos. Um dos carros ficou parado na frente da garagem para impedir a entrada da juíza. Os motoqueiros com capacetes desceram e atiraram.
Patrícia morreu na hora. Segundo a polícia foram pelos menos 16 tiros, oito na direção do motorista.
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No condomínio há uma guarita e pelo menos seis câmeras monitoram a movimentação de quem entra e quem sai.
Patricia Acioli tinha 47 anos e três filhos. Era juíza da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo.
Nessa madrugada, o primo da juíza disse que a escolta tinha sido retirada pelo Tribunal de Justiça. “Ela andava com segurança, mas há cerca de três ou quatro anos essa segurança foi retirada por ordem do presidente do Tribunal de Justiça que não julgou necessário”, afirma Humberto Nascimento.
Em 2007 e 2008, o presidente do Tribunal de Justiça era o desembargador Murta Ribeiro. Em 2009, assumiu o desembargador Luiz Zveiter.
O atual presidente do Tribunal, Manoel Alberto, explicou porque a escolta foi tirada. “Ela teve segurança de 2002 a 2007. Nesse período ela teve uma segurança total. Quando chegou em 2007, o Tribunal de Justiça, nas avaliações que faz a respeito, chegou a conclusão de que não havia a necessidade de ela continuar com aquela segurança intensa, como vinha tendo até então, e propôs reduzir o número de policiais que trabalhavam na segurança dela. Ela então achou que aquilo ali não era necessário”.
“A morte da doutora Patrícia não significa a morte de uma juíza, significa um ataque à democracia, um ataque ao poder judiciário, naquilo que ele tem de mais grato a sociedade”, afirma o desembargador Antônio Siqueira, presidente da Associação dos Magistrados do RJ.
Em uma entrevista ao jornal O Globo, ela declarou que colecionava ameaças, mas não tinha medo de decretar prisões. Em um trecho da reportagem declarava: "Quem quer fazer algo vai e faz, não fica ameaçando."
Era conhecida pelo seu rigor que agia contra grupos de extermínios formados por PMs. Patrícia Acioli condenou grupos criminosos que atuam na região de São Gonçalo, como milicianos e bandidos ligados as máfias dos combustíveis e do transporte alternativo.
Fontes da polícia disseram que nos últimos dez anos a juíza foi responsável pela prisão de pelo menos 60 policiais envolvidos em milícias e grupos de extermínios. O nome da juíza constava numa lista de 12 pessoas marcadas para morrer.
A relação foi encontrada com um o chefe de uma milícia que atua em São Gonçalo, preso em janeiro desse ano em Guarapari, Espírito Santo.
“Pelo que parece, uma juíza que enfrentava o crime, que denunciava marginais, que punia marginais, que sentenciava com coragem. Isso é um desafio à ordem pública”, disse Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro.
A pedido do presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, a Polícia Federal vai investigar a morte da juíza. As imagens do circuito de segurança estão sendo analisadas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Hoje cedo prestaram depoimento os vizinhos da juíza. Também está sendo ouvido o policial militar Marcelo Poubel, com quem Patrícia Acioli mantinha um relacionamento amoroso.
O ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Murta Ribeiro, informou que não se lembra de qualquer pedido de escolta feito por Patrícia Acioli. Luiz Zveiter, outro ex-presidente do TJ, disse que não recebeu a informação de que a juíza era ameaçada nem pedidos de escolta para ela.
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