Os Bolas
Sem condição financeira para ter uma sede própria para seus bailes, a turma do Bola buscou espaços, alugados por curtos períodos. No resto do ano, continuavam se encontrando nos bares. Precisavam de um endereço fixo e a solução foi alugar um sobrado na rua da Glória, onde passaram a realizar as reuniões da República.
Além dos fundadores, os encontros eram freqüentados por outros boêmios da época, como Donga, Pixinguinha, Ary Barroso, entre outros. Conta-se que certa noite, Ary, freqüentador assíduo, em lá chegando, foi beliscado em 100$000, assinando o livro de ouro criado por Caveirinha com o intuito de levantar fundos para a agremiação. Muito bronqueado, Ary iniciou um discurso fervoroso no interior do sobrado, reclamando do tal belisco, no seu entender, uma exploração! Caveirinha, responsável essa noite pela porta, foi chamado com urgência para resolver o ato subversivo. O Xerife, muito calmo, foi até o orador e lhe pediu, baixinho, pra que fosse ter um pé de ouvido. Juntos caminharam até a porta, onde Caveirinha pediu a Ary para riscar seu nome do livro e devolveu os famigerados cem mil reais. Em seguida, solicitou sua retirada do estabelecimento. “Deixa isso pra lá, amigo!” - argumentou Ary. Mas não houve conversa, teve o orador que deixar o recinto. Não se podia admitir excessos na República!
Folia era uma coisa, bagunça era outra bem diferente e os Bolas tinham isso muito claro. Para organizar a farra, nomeavam um xerife – o primeiro foi o Caveirinha – responsável por tudo e por todos. Era quem negociava os locais para os bailes, cobrava as mensalidades e colocava ordem na casa, quando necessário. Para ser um Bola era preciso se mostrar merecedor e atender aos requisitos que, depois de muita discussão e muitos chopes, foram estabelecidos:
1) Ser bom de copo
2) Ser alegre
3) Ser maior de 21 anos
4) Apresentar provas de que trabalhava.
2) Ser alegre
3) Ser maior de 21 anos
4) Apresentar provas de que trabalhava.
O primeiro quesito era testado numa chopada com os irmãos. O segundo, pela observação do comportamento nas atividades carnavalescas. O último quesito era ponto de honra, não se admitiam malandros. A maioria dos fundadores e primeiros sócios eram comerciantes, industriais e funcionários públicos, muitos deles da Receita Federal e Banco do Brasil.
Comprovada a aptidão, o candidato era aceito como aspirante e só depois de mostrar na prática suas boas intenções, era efetivado, numa cerimônia das mais interessantes, descrita em reportagem do Diário da Noite (1930).
Precedida de um vasto regabofe, é realizada a tradicional cerimônia de baptismo de mais um irmão. O sacerdote improvisa um latinório e é acolytado pelo próprio Xerife. Pena que o precioso texto bíblico não possa ser aqui reproduzido... O atual sacerdote da Bola, homem de largas responsabilidades domtsticas, não sendo por isso mesmo membro efetivo do Cordão, comparece (a família não sabe!), à solenidade. E então, O Hymno Nacional dos Bolas é recitado (e não cantado!):
Saude, Gambôa!
(coro) Morro da Favella.
À nossa!
(côro) Para que Deus nos livre de uma bôa cossa...
Casca, cascas, casca...
(côro) Dura!
Sapo, sapo, sapo...
(côro) Pemba!
Bella, Bella, Bella...
(côro) Vista!
À saúde da...
(côro) Mulher!
Foge! Se eu te agarro,
Se eu te pego, se eu te pilho...
(coro) Vou-te à “Bola Preta”
E te faço um filho!
Hip! Hip! Hip!
(côro) Hurrah!
“Bola...
(côro) Preta”
“Bola...
(côro) Preta”
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