Conselhos de um apavorado Raul
A derrota contra o Cobreloa deixou todo o grupo preocupado. O Flamengo tinha recebido uma grande pressão naquele duelo e sofrido agressões dos chilenos dentro de campo. Ansiosos e nervosos, Leandro e Tita, na manhã da finalíssima, na concentração, resolveram ir ao quarto de Raul, goleiro com carreira consolidada, e experiente.
- Eu era muito amigo do Tita. E estávamos muito preocupados. Aí dei a ideia de ir ao quarto do Raul, pois ele era um cara experiente e poderia passar algo positivo. Tinha certeza que nos deixaria mais tranquilos - lembrou Leandro, lateral-direito do Fla, em 81.
Todavia, quando chegaram lá, se assustaram:
- Entramos e vimos ele todo coberto, mesmo com o forte calor que fazia no Uruguai. Perguntamos o que estava acontecendo? - contou.
Atônito, Raul colocou somente a cabeça para fora do cobertor e respondeu:
- Vocês querem conversar sobre o jogo? Querem minha opinião? Então tá bom. Não vejo como ganhar desses caras. Preocupado estou eu. Só consigo ver aquela camisa cor de abóbora vindo para cima de mim! - bradou um desesperado Raul.
Leandro e Tita não entenderam nada. Foram para ser aconselhados, à procura de palavras confortantes, mas acabaram encontrando um cenário bem diferente.
- O mais engraçado era que ele pegava a ponta do cobertor e se cobria novamente. Só aparecia a cabecinha na hora de falar conosco. Acabou que nós que ajudamos ele (risos) - explicou Leandro, às gargalhadas.
Surpresa na final da Libertadores
As vitórias continuaram até a segunda partida contra o Cobreloa, na final da Libertadores. Uma pressão muito grande, entradas violentas dos jogadores chilenos, e a derrota por 1a 0 forçaram um terceiro confronto, desta vez, em campo neutro, no Uruguai. Sem Lico, vetado por conta do supercílio aberto devido a agressão de um atleta do Cobreloa, Carpegiani surpreendeu. Ao invés de colocar Baroninho, reserva imediato, o técnico chamou o lateral Nei Dias.
- Foi o troço mais doido que vi na minha vida. Ele mexeu em várias posições. Era só colocar o Baroninho, que já tinha sido titular. Mas sou grato por ter confiado em mim - relembrou Nei, ao LNET!.
Com a mudança, Leandro foi para o meio de campo e Adílio para a ponta-esquerda, alterando três posicões.
- Sabia o que estava fazendo. O Leandro foi a melhor figura do jogo, junto com o Zico. O Adílio já tinha jogado por ali e rendido bem. Era o conhecimento que tinha nos meus jogadores. Sabia bem da capacidade técnica de cada um - disse Carpegiani.
Leandro fez coro a Carpa:
- Eu já tinha jogado contra o Vasco dessa forma. Deu certo. Foi uma surpresa. Todos esperavam uma outra alteração, mas ele preferiu isso. Sempre fui taticamente aplicado, e muito aguerrido - disse.
Zico marcou duas vezes e o Flamengo sagrou-se campeão, partindo rumo a Tóquio.
Final sem dormir
O ex-lateral-direito Nei Dias recebeu a notícia de que jogaria a final da Libertadores, na noite anterior ao jogo.
- Carpegiani veio me falar que eu iria jogar, mas que não poderia falar para ninguém. Imagina como fiquei. Não dormi. Atuei naquela final virado. Não esperava - revelou Nei.
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