Fundado em 1918, o Cordão da Bola Preta é o mais antigo bloco de rua do carnaval carioca e faz parte da história da folia no Rio de Janeiro. Seu desfile, realizado no sábado de carnaval, a partir das 9 horas, leva mais de dois milhões de pessoas às ruas do centro da cidade.
Em sua sede, na esquina das ruas da Relação e Lavradio, o carnaval continua depois do desfile, com a tradicional macarronada e os bailes carnavalescos, animados por sua Banda.
Durante o ano a festa continua, com as célebres feijoadas mensais, shows musicais e a volta dos bailes dançantes, trazendo grandes atrações.
Só se bebe água
Era o ano de 1917. Um grupo de boliferos rapazes, na sua maioria jovens remadores do Club de Regatas Botafogo, associados do Club dos Democráticos, não se conformou com a suspensão de um de seus membros e passou a realizar suas fuzarcas - regadas a muito chopp, mulheres bonitas e anedotas - nas mesas dos bares da galeria Cruzeiro. Dentre outros, Álvaro Gomes de Oliveira, o “Caveirinha”, Francisco Brício Filho, o “Chico Brício”, Eugenio Ferreira, João Torres e os três irmãos Oliveira Roxo, Joel, Jair e Arquimedes Guimarães. Nesses encontros, decidiram fundar um cordão carnavalesco que chamaram, provisoriamente, de Só se bebe água. Para deixar claras suas intenções, idealizaram um estandarte com o símbolo do grupo: um barril de chope de onde saiam várias mangueiras, levando a bebida diretamente aos consumidores: eles.
Nasce o Cordão da Bola Preta
A rivalidade entre os cordões - herança das escolas de malandros de outrora - liderados por capoeiras famosos pela audácia e valentia, acabou com mortos e feridos no carnaval de 1902 e fez com que as autoridades proibissem os cordões. O que dificultou em muito a existência do recém nascido bolimbolastico Só se bebe água. Os demonstraticos da modernica fizeram mirabolantes planos para formidáveis festas carnavalescas, porém esbarravam em vários problemas. Sem licença da polícia, sem sede e sem dinheiro, tomaram uma decisão: enfrentar tudo e todos e criar o território onde El-Rey Momo faria seu reinado definitivo.
Evohé! Viva Momo!
Que seria um cordão, isso era ponto pacífico entre os fundadores. O estatuto de 1926 deixa claro no parágrafo único de seu 1º artigo que qualquer alteração de seu título de Cordão “implicará na dissolução da Bola Preta”.
Já o nome Bola Preta, tem história... de carnaval e de amor. Contada a um jornalista por Jamanta, um Bola de primeira hora, e publicada no livreto com o estatuto.
A “Bola Preta” nasceu de uma scena amorosa entre um “pierrot” (provavelmente uma fantasia de pierrete, nome dado aos disfarces desse personagem clássico da “commedia dell’arte”, quando utilizadado por mulheres) branco e preto, isto é, todo branco e de bolas pretas, com um rapaz de Sport, aliás remador do Botafogo e um de meus melhores amigos. Esse rapaz era o “Caveirinha”, O pierrot é que não conheci. Sei, porém, que a scena ocorreu aqui na Glória, quando ambos esses personagens, na expansão natural daquelle dia, conseguiram fallar-se.
Caveirinha fez de tudo para conseguir nome e endereço da moça com bolinhas, sem sucesso. Depois de um beijo, perdeu de vista sua pierrete. Ajudado por seu primo, saiu buscando sua mascarada no meio da multidão. Para se localizarem, de vez em quando gritavam um para o outro: “tem bola preta?”.
Nunca encontraram a jovem, mas o beijo ficou na memória. Na hora de batizar o grupo, o boêmio e incorrigível carnavalesco registrou para sempre a lembrança da foliona da bola preta. Foi assim que nasceu, em 31 de dezembro de 1918, o Cordão da Bola Preta. Com um – nas palavras de Jota Efegê – maixético e rebolativo baile, anunciando o novo ano, realizado na sede do Club dos Políticos, na rua do Passeio, local onde se instalou depois o Cine Palácio.
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